E já começou a aventura!!!

Tudo começou num lindo dia abafado de setembro. Aproveitei uma viagem a trabalho para SP para ir até a embaixada de Cuba tirar meu visto, já que a viagem é em menos de um mês e está na hora de começar a finalizar os preparativos. Cheguei uma hora antes do fechamento do consulado (o atendimento ao público dura exaustivas 4 horas, 4 dias na semana) e quando fui entrar ouvi um rosnado: “espere lá fora!!!”. Surpresa com a delicadeza elefântica, aguardei no lugar indicado. Ouvi o homem que entrou antes de mim, cubano, discutir por uns 20 minutos com o pessoal lá de dentro. Hoje o dia tá tenso, pensei.

Quando finalmente chegou a minha vez, entrei humildemente e entreguei todos os meus documentos. A muchacha que me atendeu, de uns 60 e poucos anos, já começou a falar em espanhol: “você trouxe a cópia da passagem? Se não trouxe, não posso te dar o visto....”. Sim, eu tinha levado. “Você trouxe a ficha preenchida? Se não trouxe, não...”. E assim ela continuou com toooda a boa vontade, até achar um motivo para acabar com a minha festa. Em Havana, vamos ficar hospedadas na casa de cubanos. É a maneira mais legal de conhecer a cidade, estando perto de quem realmente conhece o local e a realidade do país. Eu tinha preenchido a ficha com todos os dados da pessoa que vai nos receber (endereço, telefone, número de registro, etc...). Mas não tinha levado o e-mail impresso de confirmação, pois na lista de documentos que o consulado pediu não constava esse item. E a tiazinha implicou justo com isso...sem o e-mail de confirmação, nada da tarjeta turística, adiós amigo! Liguei na hora para a Li e pedi para ela enviar o e-mail direto para o e-mail do consulado. Só que eu lembrava que o e-mail não tinha os nossos nomes escritos! E a muchacha disse que, sem os nomes, nada feito...pedi então para a Li dar um jeito de enviar o e-mail com os nomes de qualquer maneira, e voltei para o meu cantinho lá fora, para onde me mandaram esperara mais um pouco.

Depois de mais uns 15 minutos esperando, eles finalmente me chamaram de volta. O cônsul, do alto de toda a sua arrogância, falou com todas as letras que a Li tinha alterado o e-mail, incluindo os nossos nomes ela mesma, pois a fonte dos nomes estava diferente da fonte do restante do e-mail! (A Li depois me contou que o e-mail era verdadeiro, o cara viajou!) Eu fiquei branca, pois não tinha visto o e-mail, não sabia se era verdade ou não, e comecei a rapidamente tentar puxar da minha memória as aulas de Direito na faculdade. Falsificar documentos para um consulado seria crime??? Por alguns segundos, a respiração faltou, e eu fiquei esperando soldados cubanos entrarem pela janela e me levarem para a prisão comunista...

Graças a Deus a conversa tomou outro rumo, e eu comecei a ficar indignada com tudo aquilo. Poxa, eu havia perguntado para o próprio consulado um dia antes da viagem quais os documentos necessários, e eles não me falaram nada desse e-mail! E agora me tratavam com a maior grosseria, como se eu fosse uma imigrante legal querendo fugir pra Cuba! Humpf! Eu faço tudo certo e ainda tenho que ficar agüentando esse tipo de tratamento??

Meu sangue espanhol começou a ferver, o papo começou a esquentar, as vozes se elevaram, e eu comecei a discutir com o cônsul de Cuba. Em espanhol, por supuesto! Imaginem a cena (lembrando agora, me dá até vergonha alheia! rs...): eu tentando falar em espanhol, nervosa e gritando, enquanto o cônsul de Cuba quase pulava em cima do balcão de tanto gritar e gesticular. Vou transcrever abaixo alguns dos melhores momentos, em português mesmo, mas tentem ler as legendas em espanhol macarrônico, ok?

Cônsul- Estou te mostrando outras alternativas. Você pode enviar toda a documentação pelo correio, e na hora mesmo o visto ficará pronto.

Eu – Vocês disseram a mesma coisa se eu viesse pessoalmente, e olha só essa palhaçada...

Cônsul - Então você quer dizer que você não confia na palavra do cônsul de Cuba?

Eu - Ahã! É isso mesmo! Não confio em vocês! (tá pensando o que? Humpf!)
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Cônsul - Eu sou o cônsul de Cuba e tenho direito a negar o visto a quem eu achar apropriado!

Eu – Não nesse caso, por conta da falta de uma documentação cujo erro foi seu! (uooou!! 2x0!!)
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Eu – Eu conheço meus direitos, como consumidora e como cidadã brasileira!!

Cônsul – Devo lembrá-la que esse é um território cubano, e a hora que eu quiser posso mandar você se retirar!! (na caaaara!! hahaha)

Depois de uns 15 minutos de conversa de alto nível como essas, eu finalmente fui embora, irritadíssima e sem o meu visto, acatando a sugestão dele de comprar o visto diretamente da agência de viagem. Quem faz esse serviço é a Sanchat Tour (www.sanchattour.com.br), mas obviamente essa opção é um segredo muito bem guardado que o consulado só divulga depois de muuuitos momentos de diversão!

Só durante o almoço, quando a adrenalina abaixou um pouco, caiu a ficha do que aconteceu...eu realmente discuti com o cônsul de Cuba no Brasil!!! Clever, clever girl...imagina se o cara resolve mesmo negar o meu visto! E o nome das meninas também estava com ele...ou seja, hasta La vista Cuba para nosotras!!

No final, liguei para a agência indicada e podemos comprar os vistos diretamente com eles, basta enviar os comprovantes por e-mail junto com a cópia do passaporte. Muito mais fácil, descomplicado e infinitamente menos estressante. No final tudo dá certo, mas até chegar o fim...muita emoção!! Sei que Cuba é um pais maravilhoso, e não vou deixar esse episódio abalar a imagem que tenho do país. As aventuras dessa viagem começaram mais cedo do que a gente imaginava...rs...

E esse foi (quase) o fim de um dia abafado de setembro...